sexta-feira, 28 de março de 2008

Coisas que por aqui se lêem i

- Desde tempos imemoriaisque não se pode separar a poesia do simbolismo. Andam sempre juntos, como o pirata e a sua garrafa de rum.
- Acreditas que a senhora Saeki sabia o significado das palavrinhas todas?
Oshima levanta a cabeça, atento ao barulho do trovão, como se quisesse calcular a que distância a trovoada estava.Vira-se para mim e abana a cabeça.
- Não forçosamente. Simbolismo e significado são duas coisas diferentes. Penso que ela encontrou as palavras certas subvertendo processos que se prendem com o significado e a lógica. Apanhou as palavras num sonho, como quem deita delicadamente a mão às asas de uma borboleta que anda ali a esvoaçar. Os verdadeiros artistas são aqueles que se conseguem furtar à tentação da verborreia.
- Estás a querer dizer que, se calhar, a senhora Saeki encontrou essas palavras num outro espaço- em sonhos,por exemplo?
- É o que acontece quase sempre na boa poesia. Se as palavras não logram criar uma espécie de túnel profético que lhes permita chegar até ao leitor, o conjunto deixa de funcionar como poema.

Haruki Murakami, Kafka à beira-mar


Ring a Bell?