domingo, 27 de janeiro de 2008

Eu i

Desde que comecei a ler que sempre tive um livro de cabeceira. Ou vários.
O primeiro foi um livro grande, de capa dura, com muitos desenhos e letras grandes, com a história da "Heidi". Ainda hoje guardo essa relíquia, já um pouco maltratada pelas andanças de vinte e muitos anos de vida... Quando o folheio sorrio sempre, quando vejo as palavras mais dificeis e compridas com as sílabas sublinhadas pelo meu pai.
Depois fui tendo muitos outros, Patinhas, Cebolinha e Mónica, os clássicos da Enid Blyton. Mais tarde, o incontornável Poirot ou então a BD do Goscinny e Uderzo ou a maravilhosa Mafalda.
Cheguei também a ter a Bíblia, quando andava na catequese. Durante algum tempo tinha uma espécie de ritual: todas as noites abria uma página à sorte da Bíblia e lia-a, a ver se a musa católica ou religiosa baixava sobre mim. Como sempre fui um espírito livre, na altura tudo o que tivesse que ver com mortes no expresso do oriente ou enciclopédia sobre os países do mundo, era mais interessante do que aquilo.
Nas férias grandes, para combater o turpor e o ócio, lia o que tinha em casa. Apesar de hoje até me considerar uma pessoa sociável, fui uma pré-adolescente e adolescente ensimesmada, muito mais à procura da fantasia nos livros cá de casa do que da realidade na vida real lá de fora. Esmurrei alguns joelhos e aprendi a andar de bicicleta. Também trepei a árvores e brinquei à cabra-cega ou aos polícias e ladrões. Mas gostava de estar no meu canto, na minha cama, a ler. Li Balzac e outros clássicos por essa altura. Li Eça antes de o ter de fazer obrigatoriamente. Pasternak, Victor Hugo, Kafka (muito complicado perceber nessa altura), os (dois) Dumas, Amado.
Passei uma fase Kunderiana, em que li quase a obra toda dele que havia em Portugal na altura. Tentei ler Proust. Apreciava (e ainda aprecio) o género do Eco.
Descobri Garcia Marquez e amei. Amei a obra e amei na vida real. Foi uma coincidência bonita, feliz, daquelas que nos parecem poéticas (não proféticas). E como com o amor vem a poesia, descobri Pessoa, Eugénio, Neruda, Vinicius, Sophia...
Tentei conhecer mais literatura sul-americana. Voltei a Amado, embrenhei-me no mundo paradoxal de Borges e conheci Llosa. Também tive a minha fase Allende (Isabel, claro). Nesta altura apaixonei-me pela Argentina e por Piazzolla e a MPB reconquistou-me. Li Chico Buarque... tão borgiano e quase kafkiano.
Desde há uns anos a esta parte, apesar de ir lendo vários livros que me agradaram (como os de Paul Auster ou o "mediático" Na Sombra do Vento, entre tantos outros), não tinha paixões. "Conversa de Goiaba", "Memória das minhas putas tristes" e "Viver para contá-la" do Gabo iam pontuando momentos de grande felicidade para mim.
Até que há uns meses descobri Murakami. Haruki Murakami, com o Sputnick, meu amor. Já o reli, comprei todos os outros livros traduzidos para português pela "Casa das Letras". Kafka à beira-mar é para mim fabuloso! Estou a meio do "Em busca do carneiro selvagem", leio a conta-gotas, para fazer render o gosto e o deleite pela obra do Murakami... Quando acabar o "Dança, dança, dança" não sei o que fazer à minha vida...

Ring a bell?

3 comentários:

Anónimo disse...

Fónix! Deste-te mesmo ao trabalho de pores link para uma das coisas?!


Eu até ia fazer um comentário, mas depois li as etiquetas do post e "adoptei-as" heheheheheh.

Comentário do Jota:
- deves pensar que tens a mania claudinha ;)
- e quem quer saber disto? eu não :p
- ufa que o post é grande :)

Anónimo disse...

Isso é que é ler, caramba!
E de tudo! E a revista Maria? :)

Anónimo disse...

Eia tanto livro. Partilho alguns gostos, mas tem aí alguns que confesso nunca ouvi falar :$:$